Suplementação de bovinos com Cana-de-açúcar

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A suplementação com cana-de-açúcar tem sido uma estratégia muito utilizada pelos pecuaristas em época de escassez de alimento, principalmente no período de seca. Além de ser uma opção muito viável economicamente, já que se trata de um alimento rico em energia (15 a 20 ton. de NDT/hectare), capaz de sustentar o peso do gado na época da seca, quando aliada à ureia torna-se também um bom fornecimento de água. 

Ou seja, a cana-de-açúcar pode ser uma “carta na manga” que o produtor pode utilizar para não faltar alimento para seu rebanho em períodos críticos.

Escolha da variedade de cana-de-açúcar

Suplementação de bovinos com Cana-de-açúcarA variedade escolhida deve ser de alta produção (2,5 a 3 vezes maior do que a obtida com milho, para se tornar viável economicamente), já que o intuito é produzir grandes quantidades de alimento para se usar na época da seca, seja picada e fornecida a cocho, ou na forma de silagem, utilizando aditivos químicos ou biológicos a fim de melhorar sua qualidade.

A variedade escolhida também deve apresentar boa longevidade, a fim de diluir o custo da sua implantação em vários anos. Há registro de canaviais manejados por 10 anos, antes de começarem a apresentar queda na sua produção, e esses, após a realização da manutenção de fertilidade, voltando a produzir normalmente (Torres e Costa, 2010). 

Para áreas mais férteis e com intenção de realizar adubação para melhor desenvolvimento da capineira, optar por cultivares mais responsivas à adubação, e para áreas menos férteis e sem intenção de grandes adubações, optar por variedades mais rústicas. Normalmente uma variedade boa produz em torno de 85 a 100 ton/há de Matéria Verde.

Qual época é melhor para o plantio de cana?

O plantio da cana deve ser realizado nas épocas de chuva se não houver a possibilidade de irrigação, e deve ser levado em conta que possuímos cultivares de 1 ano, e de 1 ano e meio. Para as cultivares de 1 ano que desejam fazer seu uso em meados de julho, o plantio deve ser realizado em setembro, algo que pode não ser possível em algumas regiões. O plantio mais tardio pode ser utilizado como estratégia, e a colheita total ou em faixas ser planejada para meados de junho, para que no próximo ano a primeira faixa ou a área inteira esteja maturada em junho. As cultivares de 1 ano e meio, recomenda-se o plantio em janeiro para fazer a utilização em junho do próximo ano.

O plantio é recomendado em relevos planos a relevos ligeiramente inclinados, em relevos com maiores níveis de inclinação se recomenda utilizar práticas conservacionistas de solo, como plantios em faixas e a utilização de curvas de nível para evitar erosão do solo. Além disso, se recomenda que a área escolhida seja próxima dos animais, e próximo de onde ela será servida, a fim de melhorar a logística do fornecimento, se for picada e fornecida em cocho, e também a fim de ficar perto de onde os animais defecam, para fazer o uso do esterco como adubo barato para a capineira.

O terreno a ser plantado deve ser preparado com aração (30 – 40 cm) e gradeações, além de técnicas que tenham a finalidade de eliminar plantas daninhas. Em terrenos declivosos recomenda-se o preparo de faixas sim e faixas não, realizando as faixas “não” depois da emergência das faixas “sim”. a correção de fertilidade, acidez do solo, e gessagem deve ser feita com a ajuda de um profissional da área, se possível utilizando esterco bovino juntamente no sulco.

O espaçamento entre sulcos deve ser em torno de 0,9m a 1,4m, o menor espaçamento aumenta a produção por área, deixa colmos mais finos, melhora o controle das daninhas, e previne a erosão do solo. Deve ser realizada a uma profundidade de 25 a 30cm, normalmente se colocando esterco no fundo, depois o adubo químico, depois a muda, e depois cerca de 10cm de terra para evitar a desidratação das gemas e falhas na brotação.

Preferencialmente utilizar mudas de 10 a 12 meses, com boa procedência, retirar sempre o ápice do perfilho, não usar mudas enraizadas e nem com brotação lateral, e não utilizar mudas com mais de sete dias. Normalmente se utiliza 15 gemas/m² – 12 a 14 ton/há. 

O plantio é semelhante ao do capim-elefante, onde se faz o plantio de pé, com ponta em fila dupla, alternando o modelo de uma fileira com a outra. Cortar as mudas dentro dos sulcos deixando 3 a 4 gemas por muda, com a finalidade de diminuir a dominância apical. Após a cobertura com 10 cm de terra, fazer uma leve compactação a fim de diminuir a possibilidade de ataque de fungos e pragas.

Manejo da cana-de-açúcar

Recomenda-se o corte manual quando possível, a fim de minimizar a compactação da área e a possibilidade de se retirar a palhada e as folhas (baixo valor nutritivo), deixando entre os sulcos, com a intenção de promover uma futura mineralização da matéria e adubação, além de cobrir o solo, segurando umidade e impedindo o surgimento de daninhas. Caso seja inviável, é preciso ter em mente que, com a compactação do solo, o canavial deverá ser reformado, provavelmente após 5 cortes, cerca de 5 anos quando cair a brotação e produção. Uma possível solução para estender essa vida útil é a colheita de todo o canavial de uma vez, fazendo ensilagem de toda a área. 

Recomenda-se escolher variedades não floríferas para que o canavial não perca valor nutritivo quando for época de florescimento. É aconselhado que o corte seja feito rente ao solo para evitar o aparecimento de doenças e pragas.

A cana cortada deve ser utilizada no mesmo dia, ou no máximo em 2 dias, para evitar a sua fermentação. Após o corte, a cana deve ser colocada em local sombreado e de temperatura amena, sendo triturada ou bem picada, a fim de melhorar a digestão desse alimento aos animais.

Dimensionamento da área

Exemplo:

  • Produtividade: 100 t/ha de Matéria verde = 25 t/ha de Matéria seca
  • Nº de animas: 80 vacas de 460 kg
  • Consumo diário por vaca: 2,5% do peso vivo em MS = 11,5 kg de Matéria seca =46 kg de Matéria Natural
  • Período de suplementação: 200 dias
  • Perdas: 20%
  • Relação volumoso:concentrado: 70:30

Quantidade de demanda de volumoso (DV):

   Demanda volumoso = nº de animais X período de suplementação X quantidade de volumoso da dieta

DV= 80 animais × 200 dias × 32,2kg

DV= 515.200 kg de Materia Verde de Volumoso

+20% de Perdas: 20% de 515.200=103.040kg

515.200+103.040=618.240 kg de Volumoso

Área a ser plantada (AP):

Área a ser plantada = kg necessário de volumoso/produção de matéria seca por hectare

 AP =   618.240 kg de volumoso100 t/ha  de Materia Verde

AP = 6,2 hectares necessários

O uso da cana na alimentação do rebanho

A cana pode ser fornecida aos animais de forma natural, triturada e servida no cocho, ou na forma de silagem.

Como atingir excelentes soluções para seca e suplementaçãoPelo motivo da cana ter baixa concentração de proteína e grandes quantidades de fibra de difícil digestão, é recomendada a adição de 1% a 1,5% no máximo de ureia na cana, a fim de melhorar o índice de proteína e melhorar a digestão dela. No entanto, a inclusão da uréia deve ser realizada de forma gradual, iniciando com 0,5% do peso da cana fornecida em uréia durante uma semana, e ir aumentando para que no final da segunda semana esteja nos 1%, e no final da 4º semana 1,5%, sendo esse valor o máximo.

Como a cana também possui um baixo índice de enxofre é recomendável fazer a inclusão dele na dieta, adicionando o Sulfato de Amônio. Essa inclusão pode ser feita na proporção 9:1 (9 partes de uréia:1 parte de sulfato de amônio). Supondo o período de adaptação, em que é utilizado 0,5% de uréia misturada a cana:

0,5% de 100kg de cana = 500gramas, dividindo 500g em 10 partes e colocando 9 partes de ureia e 1 de sulfato de amônio=> 9x50g de uréia= 450 g de uréia e 1x50g = 50g de sulfato de amônio. 

Obs: Também pode ser utilizado o Sulfato de Cálcio, mas na proporção 8:2 (8 partes de uréia:2 partes de Sulfato de Cálcio)

É recomendado diluir a ureia, ou a mistura uréia + sulfato de amônio, ou uréia + sulfato de cálcio, em 4L de água e regar a cana triturada, misturando antes de servir aos animais. Não deve ser misturado mais que 4 litros de água e o cocho deve ser furado para não haver acúmulo de água com uréia, o que pode causar intoxicação nos animais. 

Fazer uso de uma plataforma digital de gestão para pecuária de corte como a JetBov, auxilia no planejamento e monitoramento da suplementação, assim como no acompanhamento da evolução de peso dos animais.

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